Esse título, embora soe um pouco como clickbait, está certo. Pelo menos na visão do filósofo francês Jean-Paul Sartre — e talvez, depois de ler isso aqui, na sua também.
O que estou chamando de “potencial” aqui são os “até onde você pode chegar” e os “você tem um futuro brilhante” que vivem rondando sua cabeça desde que você aprendeu a andar e alguém te olhou com expectativa.
Potencial, segundo essa definição, é tudo aquilo que você poderia ser… mas ainda não é.
E sabe de uma coisa? Isso não existe.
Sartre é considerado o pai do Existencialismo, uma filosofia que ganhou destaque na modernidade e continua assombrando conversas em cafés hipsters e surtos existenciais no banho.
Frases como “o homem está condenado a ser livre” e “a existência precede a essência” são algumas das mais famosas do pensador — e sim, elas se aplicam diretamente a essa angústia de se sentir aquém de algo que nunca existiu.
Tá, e o que você tem a ver com isso?
Sartre está dizendo que você não nasceu com um destino, uma vocação, um plano secreto do universo sobre quem você devia ser. Não existe “essência” esperando para florescer. Tudo isso — chamado, dom, alma de artista — são interpretações feitas depois do fato, olhando para sua trajetória. E, às vezes, chutando bonito.
Esse “potencial” que te vendem é uma ficção. O único potencial que existe é o que você já realizou. E ponto.
Se isso parece desanimador, calma aí. Respira. Essa é a parte boa.
Quando alguém diz que você tem potencial, o que estão realmente dizendo é: “com base no que eu vejo que você já fez, e comparando com as histórias de sucesso que conheço e com as regras sociais de agora, acho que você pode ir longe”.
Essa visão tem dois problemas: é limitada. E é venenosa.
Limitada porque ignora uma coisa essencial: mudança. Crescimento. Desvios que se tornam rotas. Ela parte do pressuposto de que o futuro será uma repetição com upgrade do presente. Youtubers, jogadores profissionais, criadores de IA — nada disso fazia sentido no radar dos “potenciais” de vinte anos atrás.
E venenosa porque, quando o tal “potencial” se realiza, é por causa de “talento natural”, “sorte” ou “destino”. Mas quando não se realiza... vira “desperdício”. Carga. Culpa. Fracasso.
É por isso que te dizer que você não tem potencial é libertador.
Se não existe um caminho fixo, também não existe um caminho errado. O que você fez até aqui não é um esboço malfeito de algo melhor. É só o que foi feito. Matéria-prima para o próximo passo.
Não existe resposta certa. Então não dá pra errar em essência. O que existe são escolhas. Algumas dão certo, outras não. E tudo bem.
O resultado pode ser ruim, mas isso não transforma você num erro. Transforma você em alguém que aprendeu algo. E que pode fazer diferente na próxima.
Não importa se você era a criança prodígio que agora está travada, ou o caos ambulante da escola que ainda tá tentando entender como funciona um boleto. Nenhum desses roteiros tem obrigação de virar uma história de superação.
Porque “potencial” não existe. Mas seu futuro sim.
Try. Fail.
Doesn’t matter.
Try again. Fail again.
Fail better.
— Samuel Beckett
